11 de abril de 2009






Os amigos

Esses estranhos que nós amamos
e nos amam
olhamos para eles e são sempre
adolescentes, assustados e sós
sem nenhum sentido prático
sem grande noção da ameaça ou da renúncia
que sobre a luz incide
descuidados e intensos no seu exagero
de temporalidade pura

Um dia acordamos tristes da sua tristeza
pois o fortuito significado dos campos
explica por outras palavras
aquilo que tornava os olhos incomparáveis

Mas a impressão maior é a da alegria
de uma maneira que nem se consegue
e por isso ténue, misteriosa:
talvez seja assim todo o amor


(José Tolentino de Mendonça)

5 comentários:

lena disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
lena disse...

Mesmo que possa parecer "estranho" o amor pela vida dá vida ao amor.

Boas Páscoas

Anónimo disse...

Belas palavras resgataste à boca do grande poeta que tão bem guardou o mar da ímpar baía de Machico muito antes de a terem transfigurado nessa despropositada loira porção de deserto.

Pirata Perna de Pau

pássaro nas nuvens disse...

Caro Pirata Perna de Pau:
ainda bem que existem os poetas para guardarem preciosamente aquilo que os banais técnicos do abominável progresso desfiguram cruelmente.

Se precisar de algum arranjo, aqui perto mora um carpinteiro.

Gisela Rosa disse...

Lindo poema de Tolentino, lindas imagens, adorei! Beijinhos, Gisela Rosa